Entrevista do Correio do Povo com o ator e diretor Daniel Colin


Daniel Colin em Não eu

(Crédito: Thais Fernandes / Divulgação / CP Memória)


A mente inquieta e múltipla de Daniel Colin

Premiado ator e diretor fala da peça "Wonderland" e de sua trajetória
Ele veio de Santos (SP) para estudar no Departamento de Artes (DAD) da UFRGS, há doze anos, onde conheceu a maior parte de seus parceiros do meio artístico. Até hoje, Daniel Colin não se adaptou ao frio e calor extremos, mas o esforço valeu a pena: montou seu próprio grupo, o teatro Sarcáustico e arrebatou os Prêmios Tibicuera de Direção, Dramaturgia e Ator Coadjuvante no infantil "Jogo da Memória"; Açorianos de Dramaturgia (com Felipe Vieira de Galisteo) e Braskem de Melhor Ator em "A Vida Sexual dos Macacos" e Açorianos de Espetáculo e Direção, em "Wonderland e o que M. Jackson Encontrou por Lá".

Com 32 anos, teve seu último trabalho consagrado pelo público e crítica e no final de julho emplacará o próximo: "Breves Entrevistas com Homens Hediondos". Cursando o mestrado em teatro pelo Departamento de Arte Dramática da UFRGS, vive um momento especial também no plano pessoal, já que está prestes a ser pai.

Após incursionar pelo universo pop, pelo qual é fascinado, através da vida de Michael Jackson, na peça em busca de patrocínio para que consiga voltar a cartaz, um dia pretende fazer um espetáculo baseado na vida de Pedro Almodóvar, um de seus cineastas preferidos.

CP - Com um elenco tão numeroso, foi complicado fazer a direção de "Wonderland"?

Colin - Foi complicado dirigir por ter muitos atores e por eu também estar em cena, como aconteceu em "Gordos ou Somewhere Beyond the Sea" e "Jogo da Memória". Desta vez chamamos Tainah Dada para a assistência de direção, que deu o olhar de fora, controlou as improvisações e ajudou na limpeza das cenas. E Maico Silveira fez a direção de atores.

CP - Por este mesmo motivo não fica praticamente inviável participar de festivais?

Colin - Precisamos de um espaço físico muito específico e a equipe de 20 pessoas torna difícil, agora estamos nos dando conta disto. Pensamos em fazer no Renascença, com o público em cima do palco, mas não atende às exigências do espetáculo.

CP - Além dos prêmios que ganhou e do sucesso de público e crítica, como tem sido o retorno da peça?

Colin - Fizemos um ensaio geral para quatro EJAs (Escola para Jovens e Adultos). Os do Campus do Vale viram só o primeiro ato e com o bate-papo entenderam, adoraram e quiseram saber o final. Foi legal porque contemplou avós e público leigo, que nunca tinha ido antes ao teatro. No momento estamos buscando patrocínio para bancar o custo, em torno de R$ 1 mil por dia, com segurança, luz, transporte e montagem de cenário. E inscrevemos no Porto Alegre em Cena.

CP - E sobre o teu próximo trabalho, "Breves Entrevistas com Homens Hediondos", que estreia no final de julho?

Colin - Tivemos que parar os ensaios em função de "Wonderland". Escolhemos oito contos do livro homônimo de David Foster Wallace, e cada entrevista é dirigida por um ator. O projeto ganhou o Prêmio de Pesquisa no Teatro de Arena e eu faço a direção. Aqui temos o extremo oposto de "Wonderland" e nosso grande desafio: foco no texto, minimalismo da interpretação e quatro atores atuando num espaço condensado, com quatro portas gradeadas que se desmontam e viram jaulas.

CP - A repercussão de "Wonderland" na classe artística fez com que muita gente quisesse atuar com o teu grupo, o Sarcáustico. Como foi isto pra vocês?

Colin - Em "Wonderland" trabalhamos com cinco artistas convidados, foram oito meses de ensaio, numa confusão gratificante. Recebemos propostas de pessoas querendo falar com a gente, foi quase instantâneo o que aconteceu. Há dois anos atrás as pessoas nem sabiam quem a gente era. O que abriu foi as portas foi a Mostra dos Cinco Anos do Sarcáustico, promovida pela Prefeitura, composta por "IntenCIDADE", "Há Vagas para Moças de Fino Trato", "Gordos", "A Noiva Quer Casar" e "Jogo da Memória". Pra nós já são oito anos de estrada. Desde 2009 estamos sediados na Usina do Gasômetro e no momento estamos nos estruturando profissionalmente. Em 2010 algumas pessoas saíram: Felipe Vieira de Galisteo casou e foi para São Paulo, onde dá aulas de teatro e Maico Silveira está trabalhando em Brasília, num projeto que linka Porto Alegre e Distrito Federal. Se em "Wonderland" todos trabalharam juntos, "Breves Entrevistas..." junta os que ficaram.

CP - Neste turbilhão ainda tem o mestrado em Artes Cênicas, no Instituto de Artes da UFRGS. A quantas anda?

Colin - "Não Eu: a Busca Incessante do Performer por Si Mesmo" trabalha com Thais Fernandes e Ricardo Zigomático. Começou o ano na parte prática, teve dois meses de ensaio e retoma no final do ano, com qualificação no início de agosto. Anos atrás fiz uma performance que imitava o corpo e passos da Beyonce. Fico intrigado com as pessoas que modificam seus corpos para se parecerem com alguém e pensei na modificação do corpo em busca de um eu. De que forma posso transformar meu corpo a partir do corpo de outra pessoa?

CP - Quais são os teus planos?

Colin - Com o mestrado tô percebendo o quanto gosto de pesquisar a linha acadêmica. Pretendo fazer doutorado, talvez fora daqui, mas não quero parar de fazer teatro. Meu barato mesmo é atuar, mais que dirigir. Não consigo dirigir sem estar em cena, prefiro atuar sempre e escrever os textos, montar a dramaturgia.

CP - E quanto às influências?

Colin - No teatro acho sensacional o trabalho do Nekrosius, Zé Celso Martinez e Enrique Diaz e na dança, Constanza Macras, que inspirou o trabalho do Sarcáustico e Pina Bausch. O cinema é muito forte na minha vida. "Wonderland" bebeu muito na estética de Tim Burtom. Foi tudo muito coincidente: quando montamos o projeto Michael Jackson faleceu e depois soubemos que Burton ia estrear "Alice no País das Maravilhas". Tem ainda Luiz Fernando Carvalho e Almodóvar, que adoro e quero fazer um espetáculo inspirado nele.

CP - Quando você decidiu ser ator?

Colin - Desde criança gostava de me expressar: fazia poesias e escrevia histórias. Achava que seria poeta. Mas no 2º grau uma colega, de quem gostava, me convidou para fazer uma oficina teatral e acabei levando mais a sério que ela. Comecei a fazer teatro amador em Santos, minha cidade natal e me dei conta que queria trabalhar com isto. Tentei e universidade lá, mas passei aqui. Há 12 anos, sem conhecer ninguém, vim pra cá. Mas tem coisas que não me adequei até hoje, como o frio extremo e o calor.

CP - Qual foi a tua trajetória artística?

Colin - Tudo que fiz até hoje foi fruto do que conheci no Departamento de Arte Dramática (DAD) da UFRGS. Fiquei seis anos no Depósito de Teatro, onde fiz "Abracadabra", "Medusa de Rayban" e Dr. QS". Trabalhei na equipe das Bagassextas e ano passado voltei a trabalhar com Roberto Oliveira, em "Solos Trágicos". Em 2004 me formei com "Gordos" e criei o Sarcáustico muito vinculado aos trabalhos do DAD. Quando o Depósito de Teatro fechou, convidei algumas pessoas e propus que investíssemos no nosso grupo. Era 2008, e aí surgiu "A Noiva Quer Casar" em agosto, "O Jogo da Memória" em setembro e "A Vida Sexual dos Macacos", em outubro. Estávamos quase arrancando os cabelos quando fomos indicados a três prêmios, ganhamos o Fumproarte e a mostra de cinco anos do grupo.

http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=303642

Fonte: Vera Pinto / Correio do Povo

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